sábado, 30 de maio de 2009

AI destaca violência contra trabalhadores rurais no Brasil

O Brasil continuou registrando violência contra trabalhadores sem terra, ativistas rurais e desrespeito aos direitos dos indígenas, nos últimos meses. A constatação é do relatório anual da Anistia Internacional, organização não governamental que investiga violações de direitos humanos em todo o mundo, divulgado nesta quinta-feira.

Entre os casos de violação citados no relatório da Anistia Internacional está a atuação de milícias armadas ligadas a proprietários de terra no estado do Paraná.

Segundo o documento, em pelo menos duas ocasiões grupos armados invadiram acampamentos no interior do estado, ameaçando famílias de sem-terra e destruindo casas e lavouras.

No Rio Grande do Sul, a organização cita o caso de um dossiê montado por promotores e policiais com acusações contra os sem-terra, com o suposto objetivo de criminalizá-los. "Há o reforço de uma política de criminalização dos grupos sociais que lutam pelo direito dos sem-terra", afirma o pesquisador da Anistia Internacional Tim Cahill, responsável pelo relatório sobre o Brasil.

No Pará, o documento destaca o aumento no número de ameaças e homicídios contra ativistas rurais e a absolvição de Vitalmiro Bastos de Moura, acusado de mandante do assassinato da missionária americana Dorothy Stang, em 2005.

Sobre a violência contra os indígenas, a Anistia Internacional chama a atenção para casos de assassinato, intimidação, discriminação e expulsão de suas terras. Segundo o relatório, atrasos em decisões judiciais contribuíram para a persistência da violência contra os indígenas.

"Tanto os indígenas quanto os sem-terra estão sendo ameaçados pela expansão e pelos investimentos na agroindústria, que não está garantindo os direitos dessas populações" diz o relatório.

Como exemplo, "mais forte disso", a Anistia Internacional cita é a situação em Mato Grosso do Sul, "onde a agroindústria e o governo do estado estão pressionando fortemente contra a identificação das terras dos Guaranis Kaiowás".

Agência Brasil

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Cerca de 5 mil protestam contra ‘CPI da direita’

Cresce campanha O petróleo tem que ser nosso

A Rio Branco fechou. Como nos velhos tempos. Com jeito de campanha que veio para ganhar as ruas. Cerca de cinco mil pessoas ocuparam a avenida, no centro do Rio, nesta quinta, 21, caminhando da Candelária até a porta da Petrobras, em defesa da empresa que continua a ser um símbolo de resistência para a maioria dos brasileiros.

A manifestação partiu da Candelária pouco depois das 9h. Ao longo da Avenida Rio Branco, deputados federais, estaduais, vereadores, o prefeito de Nova Iguaçu, representantes de sindicatos e de entidades regionais deram o tom, preocupados com o uso da CPI da Petrobras para fins eleitoreiros e, mais do que isso, suspeitando que a CPI sirva de pretexto para a retomada do debate sobre a privatização da empresa, no momento em que as jazidas descobertas na camada do pré-sal aguçam a cobiça internacional sobre essas riquezas.

O ponto alto das manifestações foi um abraço à sede da Petrobras, na Avenida Chile, ao som do Hino Nacional. Então, a coordenação, integrada pela Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), Federação Única dos Petroleiros (FUP), MST e Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, deu continuidade ao ato, passando o microfone às entidades nacionais.

O representante da Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella, destacou que “ao instalar a CPI, os partidos que sustentam a oposição de direita ao governo Lula conseguiram unificar as esquerdas, os nacionalistas e todos aqueles que enxergam por trás das alegadas boas intenções da CPI, a retomada do processo de desmonte e privatização da Petrobrás”.

João Moraes, da FUP, fez um discurso emocionado, conclamando a construção da unidade em torno da campanha O petróleo tem que ser nosso, por um novo marco regulatório, que garanta o controle estatal e social sobre o setor.

João Paulo, da Via Campesina e do MST, também saudou a unidade dos movimentos sociais e das esquerdas em torno da bandeira de luta “O petróleo tem que ser nosso”, consolidada na III Plenária Nacional da campanha, que aconteceu na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema, São Paulo (dias 12 e 13 de maio). Mas alertou que o processo de privatização da Petrobras está em curso desde os governos Collor-FHC e que desmascarar essa CPI “é apenas um dos muitos desafios que ainda teremos pela frente”.

Dirigentes do PT, PSB, PCB, PSTU, PSOL, representados no ato, reconheceram que a defesa da soberania nacional e do caráter público da Petrobrás só estarão assegurados se houver a cobrança das ruas. Concordaram que essa é uma luta que não pode se restringir aos espaços institucionais. Presidentes da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES) prometeram mobilizar suas bases e engrossar as próximas passeatas.

Algumas representações – Conlutas, PSTU, Intersindical - não pouparam críticas ao governo Lula nem a algumas políticas gerenciais da Petrobras, cobrando mais atenção a questões como segurança no trabalho e prevenção de acidentes ambientais. Mas, separando o joio do trigo, repudiaram o histórico de seus autores e os interesses ocultos que movem os promotores da CPI.

A plenária de Guararema foi várias vezes apontada como um momento histórico: lá se firmou a unidade dos movimentos sociais e sindicais em torno do slogan “O petróleo tem que ser nosso” e da construção de um abaixo-assinado único, a ser transformado em projeto de lei de iniciativa popular. O texto do abaixo-assinado propõe “o monopólio estatal do petróleo e gás, a reestatização da Petrobras, o fim das concessões brasileiras de petróleo e gás e que os recursos oriundos dessa atividade tenham destinação social”.

Lutadores de ontem, hoje e sempre
Aos 94 anos de idade, Maria Augusta Tibiriçá, presidente do Movimento em Defesa da Soberania Nacional (Modecon) e sucessora de Barbosa Lima Sobrinho, receberia homenagem especial, mas não pode participar do ato, por problemas de saúde. Nas décadas de 1940-50, ela foi uma guerreira à frente da campanha O Petróleo é Nosso, que resultou na criação da Petrobras, em 1953, através da Lei 2004, assinada pelo então presidente Getúlio Vargas. A mesma lei que estabelecia o monopólio da União sobre a exploração, produção, refino e transporte do petróleo. Hoje ela afirma que “ainda não pendurou as chuteiras” e está de volta, com toda a garra, na campanha O petróleo tem que ser nosso.

Tibiriçá não pode comparecer, mas mandou uma mensagem, lida pelo petroleiro Isnard, em que destaca: “A CPI não é legítima, porque seus articuladores são os mesmos que derrubaram a Lei 2004”. Para substituí-la foi criada a Lei 9477/97, no governo Fernando Henrique Cardoso. A descoberta das enormes jazidas do pré-sal, que deverão inserir o Brasil entre os países com as maiores reservas do mundo, recolocam na pauta o debate sobre a necessidade de um novo marco regulatório e o fim dos leilões nos campos estratégicos de petróleo e gás.

Delegações de todo o país
Petroleiros vieram de Sergipe-Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Norte Fluminense, Caxias, somando-se às bases do Rio de Janeiro e Angra dos Reis. Metalúrgicos vieram de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, em massa. Camponeses do MST vieram do interior fluminense, sobretudo de Campos. Estudantes, professores, servidores públicos, os movimentos de trabalhadores Sem Teto, Desempregados – em menos de dois dias, amplas camadas da população conseguiram se organizar e se mobilizar para a primeira de uma série de manifestações em defesa da soberania nacional.

Nova manifestação será organizada em Brasília. O combustível, a energia que leva a população a retomar as ruas é a defesa do caráter público da Petrobras, da reestatização, do controle social da empresa e outras bandeiras que já vêm sendo discutidas nos encontros, plenárias e seminários da campanha O petróleo tem que ser nosso (leia mais em www.apn.org.br), há cerca de dois anos.

Entidades presentes

FNP, FUP, MST, Via Campesina, Assembléia Popular, CUT, Conlutas, Intersindical, CTB, CGTB, UNE, UBES, ABI, sindicatos de metalúrgicos, petroleiros – dentre quais o Sindipetro-RJ - químicos, bancários, trabalhadores nos Correios, advogados, engenheiros, professores, portuários, além do Modecon, Casa da América Latina, FIST, dentre outros.

Partidos políticos que enviaram parlamentares e representantes para o ato: PT, PCB, PSOL, PSTU, PSB e PC do B.

Fonte: Agência Petroleira de Notícias

sábado, 16 de maio de 2009

"A mídia não pode ter dono"

"O grande problema no Brasil é que a mídia tem dono, e não pode." A análise é do professor-doutor Pedrinho Guareschi, formado em Filosofia, Teologia, Letras e Sociologia, palestrante de abertura da Pré-Conferência Regional Sul de Comunicação promovida pela CUT/SC, de 13 a 15 de maio, na Escola Sul em Florianópolis, e que teve como tema "Comunicação e Transformação Social". O Encontro integra uma série de eventos preparativos às conferências regionais e estadual de Comunicação que devem acontecer no estado no decorrer do ano e reuniu aproximadamente 80 dirigentes sindicais cutistas, diretores de comunicação das entidades sindicais, jornalistas e professores dos três estados do sul. A 1ª Conferência Nacional de Comunicação acontece de 1º a 3 de dezembro, em Brasília, com o tema "Comunicação: direito e cidadania na era digital". "Vai ser uma briga medonha", antecipa Guareschi.

Pedrinho Guareschi reforça que o controle da mídia é contra a Constituição Brasileira, porque "a comunicação é um serviço público, não admitindo monopólios e oligopólios. A Rede Globo, a RBS, por exemplo, são do povo, têm 15 anos de concessão para prestar serviço de utilidade pública. Infelizmente, a sociedade não se dá conta de que a comunicação é muito importante e não pode ficar nas mãos de meia dúzia de famílias", afirma o teólogo, defensor da implantação do Conselho Federal de Jornalismo: "Seria uma solução, a exemplo da Psicologia, dos economistas, dos advogados (através da OAB), cada qual se vigia, mas o único que não pode fazer isso é o jornalista, porque ele tem dono e os donos da mídia não querem o Conselho Federal de Jornalismo". Guareschi defende a profissão - "alguém tem que estudar, é provocado para isso", destaca - e convoca os demais setores da sociedade para que façam o mesmo.

Queremos rever as concessões

José Sóter, coordenador executivo da Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária), foi o segundo palestrante da Pré-Conferência e relembrou meados da década de 70, quando a maioria absoluta dos cinco mil municípios não tinha meios de comunicação: "Os meios de comunicação eram limitados a poucos orelhões (telefones públicos), daí a experiência de rádios-poste, a comunicação direta com a população", exemplificou. "No novo milênio o país está cambiado com fibra ótica, surgiram inúmeros instrumentos de comunicação (internet banda larga, rádio web...), que atingem todos os lares, hoje podemos ter voz, sermos produtores de conteúdo", afirmou. O palestrante criticou que "em nenhum momento, em todo esse tempo, se discutiu a propriedade da mídia no Brasil, ou seja, como fazer para que nossa voz seja ouvida". Como exemplo, cita que "a legislação sobre televisão, que proíbe rede em mais de cinco estados e, no entanto, só a Globo é captada em 5.600 municípios brasileiros. Secretário geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Sóter defende que se cumpra a legislação, para que "artistas, jornalistas, os próprios conteúdos da mídia reflitam a identidade regional, o nosso meio".

Por que nunca se cassou um meio de comunicação no Brasil? "Porque dois terços do Congresso Nacional precisam aprovar a cassação", respondeu o coordenador da Abraço. Nada menos de 178 deputados federais são donos dos meios de comunicação. Ele contou que a Associação ingressou com Ação judicial solicitando cassação de uma rádio do Rio Grande do Sul, cuja concessão havia vencido: "O Ministério Público consultou a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e a resposta foi negativa, sob alegação de que traria grande prejuízo à sociedade se a rádio fechasse". Em contrapartida, denunciou, "as rádios comunitárias são consideradas piratas". Sóter insiste que é necessário rediscutir as concessões, caso contrário, o monopólio vai continuar. "É preciso abrir licitação de novo para termos os nossos canais e atuarmos no viés da luta de classes, assumindo a contra-informação. Não vamos brigar por espaço na mídia tradicional, muito menos compartilhar com ela as nossas lutas".

Burguesia reacionária e mídia golpista

A democracia da comunicação é um processo em curso, na opinião do professor da USP, Bernardo Kucinski, outro palestrante da pré-conferência. Doutor em Ciências da Comunicação, Kucinski analisa que "vivemos uma profunda revolução, ainda em curso, uma nova ambiência e novas formas de relacionamento. Os jornais impressos estão em declínio, o que antes era a indústria de capital intensivo, hoje é notícia obsoleta. Este negócio (jornal) de derrubar árvores, imprimir, distribuir não tem lógica, nem mercantil, nem informativa, nem ecológica. Por perderem caráter informativo, os jornais tornaram-se mais ideológicos e perderam leitores". Bernardo Kucinski denunciou que o Brasil "possui uma burguesia que não gosta do seu povo e uma mídia golpista, que se apropria do Estado e não permite que os meios de comunicação caiam nas mãos da sociedade, ou seja, no limite, prepara o golpe".

Ex-assessor Especial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Kucinski criticou o PT e a própria CUT por não fazerem a comunicação estratégica, "devido às facções internas, aos projetos em disputa". Por isso, ele considera que "o problema não está na burguesia, mas dentro de nós". Para o palestrante, o governo Lula, "nosso governo", fez um pacto estratégico com o capital financeiro, em outras palavras, "ganhamos a eleição, mas não ganhamos a hegemonia". O que cobrar do governo? Na visão de Bernardo Kucinski, é preciso cobrar "o recadastramento das concessões a empresas de comunicação, com aplicação da lei antimonopólios; regularizar as concessões, cancelar muitas; instituir um Plano Nacional de Aplicação das verbas públicas de propaganda, especialmente no processo digital; mudar a política para as rádios comunitárias; reforçar o sistema público de TV; reconstruir o sistema de comunicação estatal; promulgar uma nova lei de imprensa". Tudo isso tendo como questão de fundo "a democratização do próprio estado". Para ele, a Fenaj e os Sindicatos de Jornalistas são fundamentais nesse processo.

Controle social da comunicação

Comunicação e Terra são dois setores do país que ainda não foram democratizados, reforçou o diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), José Torves. Cita como exemplo a repressão sobre as rádios comunitárias - "é a criminalização dos movimentos sociais, com apreensão de equipamentos e por orientação do próprio governo", disse -, insistindo que "é preciso qualificar os movimentos sindical e social para o debate sobre a concentração da mídia". Torves quer ver, na Conferência de Comunicação, uma mobilização a exemplo de outras conferências (como de Saúde, Educação...). "Temos que usar a tecnologia digital a nosso favor, garantir a universalização do acesso à internet, o controle sobre verbas publicitárias (o veículo Jornal abocanha 15%), estabelecer uma política pública de comunicação para jornais alternativos e rádios comunitárias", defendeu Torves, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS.

Preparação da CUT para o debate

A Pré-Conferência Regional Sul de Comunicação teve o objetivo de preparar os dirigentes cutistas para interferirem na Conferência Nacional de Comunicação, grande tema para o projeto de transformação da sociedade. A secretária de Comunicação da CUT nacional, Rosane Bertotti, acrescenta que a pré-conferência foi a primeira de uma série de 266 debates nos estados, até culminar com o Encontro Nacional de Comunicação da CUT, de 8 a 10 de julho, de onde serão tiradas as propostas a serem defendidas na Nacional, em dezembro. O assunto também será debatido no Congresso Nacional da CUT, marcado para os dias 3 a 8 de agosto. "A Comissão Nacional Pró-Conferência foi criada mas sequer se reuniu para organizar a Conferência, precisamos pressionar ainda para que ocorram as conferências regionais e estaduais. A comunicação é estratégica na disputa da hegemonia, por isso, a CUT tirou dois debates prioritários neste momento: a crise financeira (necessidade do controle social da produção) e a democracia na comunicação", adiantou Rosane.

Outras atividades rumo à Conferência

Dia 20 de maio, às 19 horas, acontece em Florianópolis, no mini-auditório da Fecesc (avenida Mauro Ramos,1624), a primeira oficina Pró-Conferência Nacional de Comunicação. O Sindicato dos Jornalistas de SC é um dos promotores. Já no dia 21 está sendo organizada Audiência Pública sobre a Conferência, das 9h às 12h, na Assembléia Legislativa. O evento foi convocado pelo Comitê Estadual Pela Democratização da Comunicação, do qual o Sindicato dos Jornalistas de SC faz parte.

Agência INFORMA informaeditora@terra.com.br

sábado, 9 de maio de 2009

Gripe suína, quando a imprensa faz jogo sujo

Blog Sindicalismo e cultura
Escrito por Norian Segatto
30/04/2009

Novamente, a mídia comercial sensacionalista, liderada pela Rede Bobo, cria alarme e deixa de fazer sua missão central, a de informar corretamente. O caso da chamada gripe suína é mais um exemplo disso.
Nos últimos dias já se falou muito sobre a tal gripe, as supostas mortes causadas, o pânico que se generalizou em aeroportos. Levam a crer que é mais uma das pragas do terceiro mundo incivilizado, que não habla inglês.

O que nossa isenta mídia não fala, divulga ou investiga são as reais origens da doença, que tem como epicentro o estado Veracruz, no México. Mas, por que será que começou lá, perguntaria qualquer estudante de jornalismo?

No estado de Veracruz está instalada a Granja Carroll, complexo fazendário que cria e comercializa cerca de 650 mil porcos anualmente. Um dos primeiros casos de gripe suína no México afetou Edgar Hernandez, de quatro anos, morador da localidade de La Gloria, a 8,5 km de uma unidade de criação de porcos da Carroll, em Perote. O diretor da empresa, Víctor Manuel Ochoa, nega a acusação e diz já ter solicitado inspeção da FAO (fundo para alimentação e agricultura da ONU).

Mas quem detém o controle dessa tal Granja Carroll, que fica muito próxima de onde começaram os casos de gripe, que cria milhares de porcos, mas que nada tem a ver com a tal epidemia? Ora, é apenas a Smithfield Foods, maior empresa do mundo em produção e comercialização de carne suína. Agora a história começa a fazer sentido. De fato, não há interesse da mídia de investigar uma multinacional estadunidense, grande anunciante.

Segundo relatos que correm pela internet de moradores da região mexicana afetada, os porcos da granja Carroll produzem imensas quantidades de dejetos fecais e orgânicos que são acumulados ao ar livre. Faça um esforço de imaginação: 650 mil porcos cagando ao ar livre, multiplicados pela quantidade de moscas que se acumulam nas fezes, com reflexos nos rios da região ao lado de comunidades pobres como Perote. Não precisa ser especialista para prever os perigos de tal equação.

Enquanto os empresários negam e a imprensa comercial esconde, e se preocupa com reflexos no turismo e no movimento de aeroportos, pessoas morrem vítimas, outra vez, da ganância pelo lucro acima de qualquer fosso de decência.

http://www.sindicalismoecultura.blogspot.com/

quinta-feira, 7 de maio de 2009

"Governador Luiz Henrique está comprometido com os patrões"

Audiência Pública, em Jaraguá do Sul, debateu Projeto de Lei que institui o Piso Estadual de Salários


Foto: lideranças dos trabalhadores e patronal estiveram na Audiência promovida pela Câmara, dia 6 de maio

Jaraguá do Sul – O governador Luiz Henrique da Silveira não encaminha à Assembléia Legislativa o Projeto de Lei que institui o Piso Estadual de Salário porque está comprometido com os empresários e ignora os anseios dos trabalhadores e trabalhadoras catarinenses. Esta foi a conclusão da Audiência Pública promovida pela Câmara Municipal de Vereadores na noite do dia 6 e que debateu a implantação do piso mínimo de salário para Santa Catarina. A Audiência foi uma solicitação da bancada do PT e reuniu dirigentes sindicais das mais diversas categorias e trabalhadores de fábrica, em sua maioria. Além de Francisco Alves e Justino Pereira da Luz, estiveram na audiência os vereadores Dico Moser, Natália Petri e Jean Leutprecht, além do representante da Associação Comercial e Industrial (Acijs), Charles Bretzke, o assessor jurídico da entidade, advogado Jackson Bastos e o diretor técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos), economista José Álvaro Cardoso. A Câmara de Jaraguá do Sul já havia aprovado moção de apoio do Piso Estadual no ano passado.

Piso foi criado no governo FHC

O advogado Jackson Bastos foi o primeiro a se manifestar, sendo bastante criticado pelos dirigentes sindicais ao afirmar que o Piso Estadual de Salário seria inconstitucional. "O piso já existe em oito estados brasileiros, sendo Santa Catarina o único do sul do país que ainda não possui o valor diferenciado para o salário mínimo", retificou o economista do Dieese, José Álvaro Cardoso, lembrando que o piso estadual foi criado durante o governo Fernando Henrique Cardoso. O economista utilizou argumentos técnicos para comprovar que Santa Catarina pode instituir o Piso. "O crescimento do Brasil vem do mercado interno, representado pelos investimentos nas empresas e no consumo das famílias", apontou o economista, destacando a importância dos sucessivos aumentos do Salário Mínimo para a economia do país. Há poucos dias o governador do Paraná, Roberto Requião, reajustou o valor do piso estadual para R$ 629,00 (para SC, hoje, o valor está em R$ 587,00, na proposta das entidades sindicais).

O que fazer com R$ 587,00?

Para o presidente do STIVestuário, Gildo Antônio Alves, a argumentação do assessor jurídico da Acijs e dos sindicatos patronais "demonstra que o governador Luiz Henrique não recebe os dirigentes sindicais porque os empresários são contra o Piso Estadual de Salário". Representante da Fetiesc (Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de SC) na Audiência, Gildo lembrou que "muitas categorias de trabalhadores terceirizados recebem o salário mínimo e, com o piso estadual, teriam a chance de conquistar um pouco mais", e questionou: "O que faz um pai de família ou um empresário com R$ 587,00, depois de pagar água, luz e as demais despesas mensais, como vai sobreviver?"

Orgulho e frustração

A dirigente da CUT/SC (Central Única dos Trabalhadores), Adriana Maria Antunes, destacou seu orgulho em morar em Santa Catarina, "o quinto PIB (Produto Interno Bruto) do país" e, ao mesmo tempo, sua frustração, "por não termos aqui o Piso Estadual, que teria impactos social e de desenvolvimento muito grandes". Representando a senadora Ideli Salvatti, Dionei Walter da Silva recordou que, quando ainda era deputado estadual, em 2004, a Assembléia Legislativa aprovou sua Indicação de apoio ao projeto sobre o Piso Estadual, "partindo de estudos feitos pelo Dieese". Dionei parabenizou a união das organizações sindicais em torno do assunto.

Movimento sindical unido na Campanha

Seis centrais sindicais, 15 federações e 480 sindicatos de trabalhadores de Santa Catarina, representando mais de três milhões de trabalhadores e trabalhadoras catarinenses estão mobilizados na campanha pela implantação do Piso Estadual de Salário. O coordenador do Dieese/SC, Ivo Castanheira, também contestou o assessor jurídico da Acijs: "O piso estadual está previsto na Lei 103/2000, da Constituição Federal". Castanheira acrescentou que o piso não abrange os servidores públicos municipais e que nenhum servidor estadual efetivo recebe menos do que R$ 587,00 por mês. "O PIB do estado, em 2007, cresceu 8,2%, a renda per capita é de R$ 14.539,00, maior do que nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná, e o piso estadual beneficiaria 400 mil trabalhadores e trabalhadoras", completou Castanheira.

O objetivo das entidades sindicais é de que o governador encaminhe o Projeto de Lei do Piso Estadual à Assembléia Legislativa, "onde faremos a disputa pela sua aprovação", reiterou o coordenador do Dieese/SC. Para o presidente da Fecesc (Federação dos Trabalhadores no Comércio de SC), Francisco Alano, isso não acontece porque o governador tem lado, o dos patrões. "A Fiesc é contra o projeto porque os pisos salariais negociados no estado são miseráveis", criticou Alano.

Dedo na ferida

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Narciso da Cruz, denunciou que em Jaraguá do Sul e Região prevalece a "lei do Gérson, porque os empresários querem levar vantagem em tudo". Narciso disse que muitas empresas metalúrgicas pagam o salário mínimo a seus trabalhadores e, para atingir o piso salarial da categoria, hoje em R$ 550,00, utilizam o adicional noturno e outros benefícios dos trabalhadores. Como a Convenção Coletiva de Trabalho dos metalúrgicos prevê pisos diferenciados a partir dos 50 trabalhadores na empresa, o dirigente citou exemplo de "patrões que abrem duas empresas no mesmo parque fabril, somente para não ficar acima do limite e, assim, terem que pagar o piso maior".

Participe do abaixo-assinado

"Faça a sua parte e assine", diz o texto da Campanha de abaixo-assinado promovida pelas entidades sindicais de SC, com objetivo de coletar pelo menos 50 mil assinaturas para dar entrada em Projeto de lei de Iniciativa Popular, na Assembléia Legilativa. A coleta prossegue até 31 de maio. O Projeto de Lei de iniciativa popular está baseado no Artigo 61 da Constituição Federal, regulamentado pela Lei Federal nº 9.709/1998 e no Artigo 2º da Constituição Estadual, regulamentado pela Lei Complementar nº 220/2002. Nesta sexta-feira (8), pela manhã, acontece reunião de avaliação da campanha pelo Piso Estadual de Salários, no auditório da Fecesc, em Florianópolis.
Informa - Editora Jornalística - informaeditora@terra.com.br