quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Por que sou socialista?


Por Luiz Henrique Ortiz Ortiz

Numa análise perfunctória sobre a origem das minhas convicções políticas e se deveria pô-las em prática, achei que o melhor seria não racionalizar, pois sou socialista porque sou!
Uma, por razões culturais, em que normalmente absorvemos conceitos que achamos não poderem ser contraditados e que historicamente aprendemos a aceitar. Este pensamento, não muito apurado, vem numa linha dogmática, carregado de verdades indiscutíveis, mas que não alimentam a razão, uma vez que, como já escreveu Fernando Pessoa, num dos seu textos: “A razão era incompetente para determinar uma verdade”, justificando com isso que “o conhecimento vem, ou pelos sentidos (…), ou intelecto, nem percebe, nem cria, tão somente compara e, por comparação, retifica e elabora os dados que os sentidos ministram.”
Desta forma, tive a necessidade de questionar-me, não racionalmente mas, sim, meus sentimentos socialistas, pois todos nós somos políticos, mesmo quando dizemos que não gostamos de política. Em qualquer fase da nossa vida somos confrontados e obrigados a tomar decisões e, nesse momento, julgamos, por vezes sumariamente, dentro do contexto que nos envolve, com base nas nossas crenças, princípios, valores, experiências e ensinamentos absorvidos ao longo de nossas vidas. A prática política, para além das reflexões civilizacionais, confronta-nos com a arte de regular, moderar e decidir.
Assim, temos necessidade de tomar decisões acertadas, sendo que para tal necessário termos um bom código de valores, algum conhecimento, experiência suficiente, capacidade de gerir e intervir utilizando as boas práticas no respeito intrínseco por quem somos.
Por que sou socialista? Talvez por utopia mas, a bem da verdade, é que creio nos princípios Socialistas, defendo os direitos sociais, busco “uma sociedade livre, justa, solidária e pacífica”, valores estes que parecem ser universais, contrariamente a todas as formas de injustiça e discriminação, como acontece no capitalismo em que vivemos.
Então, se me sinto socialista, por que me sinto Socialista? São nestes momentos cruciais que temos que nos afastar do conteúdo e voltar à forma onde acontecem as grandes diferenças, onde uns reconhecem como cruciais mercado e capacidade de se auto-organizar, outros nem sequer reconhecem o mercado; uns dão significado valor à meritocracia; outros, sentido comunitário; uns defendem a democracia sem classes sociais. Enfim, motivos e motivações que provocam divergências fundamentais entre partidos. No entanto, é nos Partidos de cunho Socialista que me reconheço e onde reconheço o melhor modelo social, baseado em três princípios basilares: o primeiro é que o Estado tem a obrigação de garantir o bem-estar comum, o segundo, a defesa de uma economia de mercado triangular, regulada institucionalmente, onde se funde a iniciativa privada, a iniciativa pública e a iniciativa social e, por fim, a preocupação progressista no desenvolvimento sustentável e a coesão social, respeitando sempre os direitos humanos.
Diante do explicitado, evidente a resposta à minha pergunta, sou socialista porque entendo que todos têm direito ao acesso à saúde, à educação e justiça. Sou socialista porque não aceito a exclusão social. Sou socialista porque somente em uma sociedade sem miseráveis poderemos ser verdadeiramente felizes. Sou socialista porque gosto de partilhar. Porque na partilha de comida, conhecimento, habitação estamos a ser mais humanistas e, portanto, estaremos construindo um mundo melhor. Sou porque sou e daí, algum problema?