A dura realidade em que vivem as famílias atingidas pelas cheias no Vale do Itajaí e Região Norte do estado de Santa Catarina.João Martins – Pesquisador do Centro de Direitos Humanos Maria da Graça Braz de Joinville.
"Socorro, aí vem chuva!" São essas as palavras que primeiro vêm à mente das pessoas atingidas pelas enchentes de novembro de 2008, assim que vislumbram a possibilidade de chuvas no horizonte. Muitos, ainda hoje se encontram nas chamadas áreas de risco, interditadas pelas autoridades por causarem riscos às vidas dessas famílias. Mas, por falta de alternativa voltaram para suas casas. O pavor toma conta dessas pessoas, a ponto de muitos tomarem remédios controlados para suportar a agonia de ver aproximarem-se chuvas.

As chuvas de setembro deste ano voltaram a aterrorizar essas famílias, atingindo suas casas - muitas delas pela segunda vez. Em Joinville, Blumenau, Jaraguá do Sul, Itajaí e Ilhota, novamente as chuvas fizeram suas vítimas.
Meses de agonia e governos inapetentes

Em Itapoá, conforme o Vereador Nilson Vieira (PT), o município recebeu milhares de horas máquinas para obras reparadoras da cheias. No entanto, a Prefeitura tem avidez de recurso para obras de prevenção e contenção, bem como para construir moradias aos desabrigados. O mesmo ocorre com outros municípios da região. Recursos para as horas máquina chegam com facilidade, porém os desalojados ficam reféns da vontade do poder público e da burocracia sem limites, sempre utilizada contra os trabalhadores.
O governo do estado de Santa Catarina alardeou uma Parceria Pública Privada (PPP) com o Instituto Ressoar, da Rede Record, ligada à Igreja Universal. A PPP só serviu para dar audiência e livrar o Governador Luiz Henrique (PMDB) de maior pressão da população. A Cia de Habitação estadual (Cohab) divulgou diversos projetos de moradias para os atingidos, entretanto ficaram só no papel. Em Itajaí, segundo Vilson, mobilizador do Projeto SOS Comunidade pelo Centro dos Direitos Humanos, a PPP com Instituto Ressoar entregou somente cinco casas de maneira suspeita. As famílias não se conheciam e eram todas fiéis da Igreja Universal.
Ações paliativas
As prefeituras dos municípios atingidos tiveram que abrigar os desalojados de suas casas durante a tragédia. Passadas as chuvas, foram destinados recursos para aluguel de moradias, tanto para os atingidos quanto para os que tiveram suas casas interditadas, posteriormente, pela Defesa Civil. As ações deveriam acontecer até que os moradores voltassem às suas residências, porém, pela falta de políticas públicas eficientes, eles vivem ainda no desespero.
Em dezembro terminará o auxílio aluguel. Muitos deles não conseguiram esse auxílio e para outros os valores pagos não cobrem o aluguel de uma casa no bairro onde moram. Os preços dos aluguéis tiveram alta desproporcional devido à procura e, para não ficarem na rua, os atingidos se conformaram em viver no perigo.
Verba do Governo Federal financia abrigos desumanos em Blumenau

O prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing (DEM) abriu mão dos aluguéis e optou por colocar os desabri- gados em locais alugados para esse fim. Atualmente, cerca de 370 famílias vivem nesses locais. O que não se esperava era que esses abrigos, ditos temporários, tornar-se-iam verdadeiros campos de concentração no melhor estilo nazista.
“... Os moradores são marcados com pulseiras, não podem receber visitas. Os banheiros são containeres e fora dos abrigos ninguém pode falar mal da situação, senão é perseguido, podendo até perder o emprego. Brigas, estupro, roubos... nem os presidiários morariam aqui”. Foi o que disse João, morador de um desses abrigos, “Ontem, um dos containeres – são seis, mas só dois funcionam - pegou fogo e por pouco não matou três criança. Sendo uma delas minha filha. Em pleno século XXI somos tratados como animais”.
Na entrada dos abrigos há uma placa avisando que aquele local é mantido com verbas do Governo Federal. Leonilso, mobilizador do Projeto SOS Comunidade, desabafa: “como petista é duro ver o nosso governo participar desses absurdos, deixando trabalhadores que perderam tudo em situação de humilhação. Isso aqui é a barbárie”.
Organização popular

Os poderosos da cidade não os deixaram em paz e exigiram por vias judiciais que eles saíssem do local. Embora o Poder Judiciário local desse a reintegração de posse, os moradores resistiram e continuam lá, abrigados em condições mais humanas, unidos e organizados. Garantem que só sairão de lá quando a prefeitura lhes der um lugar digno para morar. Segundo Pradalino, membro do MAD “... temos consciência dos nossos direitos e da luta que enfrentaremos contra os poderosos desta cidade, porém estamos dispostos a lutar para conseguir a vitória, somos trabalhadores e sa-bemos que esta é uma luta entre classes...”.
O lucro acima de tudo


A única saída é o socialismo
Conforme declaração das autoridades, a culpa de toda essa tragédia é da natureza. Representantes da burguesia fazem questão de colocar a culpa na natureza, pois assim se desvia as atenções sobre o verdadeiro motivo causador dessas e de outras tragédias acometidas à humanidade: o capitalismo e sua busca incessante pelo lucro acima de tudo e de todos.

Mariano foi preciso. Outras chuvas e tragédias como as de novembro passado vão acontecer novamente e os trabalhadores sofrerão tudo mais uma, duas, três vezes... , e os governos que defendem os interesses da burguesia e de seu sistema, o capitalismo, de novo colocarão a culpa na natureza e os trabalhadores ficarão à míngua, à beira da barbárie.
Enquanto isso, o Governo Lula, pautado pelo governo de coalizão com a burguesia entrega bilhões de dólares para salvar os capitalistas, e não dá nenhum centavo para resolver os problemas dos trabalhadores atingidos pelas cheias, pelo contrário, ajuda a manter os “abrigos” em Blumenau, assim os trabalhadores são os que acabam pagando a conta da exploração do homem pelo próprio homem. A única saída não só para os atingidos, como para todos os trabalhadores, como disse Mariano, é o “Socialismo”.
Trabalhadores uní-vos!
João Martins
jbmartinss@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente nossas postagens. Isso ajuda na discussão dos temas publicados. Equipe INFORMA.