quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O descaso na saúde e a conivência das autoridades

Infelizmente existem situações que passam a ser tidas como naturais, inevi-táveis ou até mesmo normais. Isso já acontece há tempos com a prestação dos ser-viços de saúde, em todos os níveis.
Os desmandos se sucedem trazendo muita dor e sofrimento para a popula-ção. Quando nós, da Comissão de Direitos Humanos da OAB efetuamos a denúncia sobre a falta de médicos no Pronto Socorro do Hospital Materno Infantil, a morosi-dade no atendimento e os problemas que acarretam o Protocolo de Manchester, que ajuda a postergar ainda mais o diagnóstico médico, não imaginávamos que um desfecho tão doloroso se avizinhava com a morte de gêmeos na segunda-feira do dia 14/09/2010.
A adolescente de 16 anos, C.V.M., aguardou uma cirurgia por mais de sete horas no Hospital Materno infantil e os bebês, prematuros, nasceram mortos. A gravidez infanto juvenil era de alto risco e foi constatada asfixia como causa da morte dos gêmeos nascituros.
É claro que as responsabilidades serão apuradas através dos meios cabíveis, isso é imprescindível. Mas, são medidas que não reparam a dor, nem devolvem a vida.
Agora, médicos obstetras da Maternidade Darcy Vargas se mobilizam a fim de pressionarem o Governo de Estado a contratar mais profissionais para o atendi-mento na unidade hospitalar. Isso porque a sobrecarga de trabalho é grande e não há médicos suficientes para atender a demanda.
Conseguir agendar consultas e cirurgias através da rede de atendimento bá-sica de saúde é mais do que uma loteria, é uma verdadeira ‘roleta russa’, pois em muitos casos o paciente não está mais vivo para comparecer. A utilização do acele-rador linear para tratamento de câncer aguardou pela construção da casamata por mais de quatro anos. E tudo isso parece ‘normal’!
As normas preconizadas pelos conselhos profissionais, pela legislação de sa-úde, são solenemente ignoradas pelos gestores. E ainda, se vê na mídia manifesta-ções enfáticas de que ‘tudo que é possível está sendo feito para melhorar a presta-ção de serviços aos usuários’. Ora, pura falácia.
Na verdade, o que existe é um acomodamento muito grande das autoridades de saúde diante do caos. Não há vontade política de enfrentar a má qualidade dos serviços, a falta de profissionais, de técnicos, de estrutura, capazes de modificar esta situação.
No que diz respeito aos governantes, a fórmula se repete. Não há ações transformadoras, investimento dos recursos necessários, um planejamento que a-ponte para a construção de alternativas, de uma política de saúde que de fato a-tenda às necessidades das pessoas.
Na verdade, falta postura e a impunidade é a regra. Violar direitos humanos, sempre da população carente, é claro, fica parecendo que é normal. Creio que é tempo de todos se insurgirem contra essa prática, de fazerem valer seus diplomas, sua força de trabalho e de nos insurgirmos radicalmente contra o que está errado, única forma de transformar.

Cynthia Maria pinto da Luz - cynthiapintodaluz@terra.com.br

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